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Cacau brasileiro: de Linhares para o mundo

O pequeno estado do Espírito Santo tem escrito vários capítulos na história da cacauicultura brasileira, nos últimos anos. Produtores capixabas investem cada vez mais na produção de amêndoas especiais, com um olhar e um cuidado excepcional para o plantio, manejo, colheita e fermentação. Em especial o premiado agricultor Emir de Macedo Gomes Filho, que afirma – e nos prova - que por detrás de uma barrinha de chocolate existe uma complexa cadeia, com destaque para a importante relação harmoniosa com o meio ambiente.

A cacauicultura do Espírito Santo vem crescendo, apesar de não ser um dos maiores Estados produtores de cacau do Brasil, atrás da Bahia e do Pará. E isto se dá principalmente na Região Norte, na Bacia do Rio Doce, município de Linhares - o maior produtor estadual. Detendo cerca de 90% da produção do Estado, no ano passado, Linhares foi a primeira cidade no nosso país a ser reconhecida com o Selo de Rastreabilidade de Indicação Geográfica (IG), que identifica a origem de produtos e serviços.

Muitos atribuem esse crescimento graças à qualidade da amêndoa capixaba, reconhecida nacional e internacionalmente. Mas quem pode – e deve – falar sobre prêmios é Emir de Macedo Gomes Filho, produtor de cacau fino na região. Em 2013, suas amêndoas ficaram entre as 10 melhores do Brasil e as 50 melhores do mundo, no Salon du Chocolat de Paris. Já em 2017, ficou entre os 18 melhores cacaus do mundo no Salon du Chocolat. No mesmo ano e em 2018, conquistou os 1º lugares no Concurso de Qualidade de Linhares e, no ano passado, foi premiado como o melhor do país, no 1º Concurso Nacional de Qualidade Cacau Especial do Brasil (iniciativa do CIC - Centro de Inovação do Cacau), na categoria varietal, em que os fatores determinantes para a escolha foram o aroma e o sabor.

Em recente bate-papo, com transmissão ao vivo na nossa série intitulada “Vamos CHOCOLATEAR(LINk AQUI), o cacauicultor explica o motivo para tanto reconhecimento. “Nada é fruto do acaso, é fruto de muito esforço, dedicação, paixão e trabalho”, reforça. E quanto trabalho. Até porque a sua história começa lá atrás, há três gerações. Emir é neto de produtor rural e filho de médico, que também se apaixonou pela cultura do cacau. Estudou até o 3º ano de Zootecnia, mas como ele mesmo o descreve, com vocação para a agricultura e com identidade rural, ele cresceu nesse ambiente. Trabalhou com cana-de-açúcar, mamão e feijão, mas o seu coração bateu mais forte pelo cacau, aos 38 anos de idade, quando ganhou de seu pai a propriedade Santa Clara e pode colocar em prática suas ideias e sua administração. 

Saiu do extrativismo rumo à renovação, à modernização, ao profissionalismo. Errou, acertou, aprendeu e produziu muito cacau. Mas, em 2001, viu toda a sua plantação ser completamente devastada pela doença “vassoura-de-bruxa”. Em mais um recomeço, observou que o sistema de “cabruca” (sistema agroflorestal que maneja culturas à sombra das árvores nativas da Mata Atlântica) estava migrando para áreas mais abertas. Foi então que fez um viveiro para vender mudas de cacau e ter recursos suficientes para dar continuidade à cacauicultura. De 50 mil pés, atualmente possui mais de 200 mil mudas por ano.

Esse restauro o levou a viveirista; produtor de cacau fino premiado; gestor de turismo científico, cuja “viagem” está associada à ciência; e progenitor do próprio chocolate, lançado esse ano, com a marca batizada de “Cacau em Cor” e em parceria com a nossa querida professora Castelli e chocolate maker Ana Ruzzarin. Seu principal objetivo foi o de divulgar a sua matéria-prima, a sua amêndoa, o seu cacau e o seu cuidado com o beneficiamento. É proprietário do Viveiro Cacau Aliança, da Fazenda São Luiz e da Fazenda Santa Clara.

Hoje suas terras trabalham com o sistema de “cabruca”, preservacionista, com preocupação com a biodiversidade, fertilidade de solo, manutenção dos hídricos. Evita erosão, pratica desenvolvimento sustentável e permite a conservação de muitas espécies nativas da Mata Atlântica. Esse tipo de plantio, com cacau sombreado, o permite “conciliar o trabalho com o meio ambiente e possibilita a convivência da planta com áreas de proteção ambiental”, assegura.  Para ele, o principal atributo ao seu produto de qualidade está diretamente relacionado a sua preocupação com todas as etapas do beneficiamento. E isso, por exemplo, implica diretamente nas barras de chocolate que produzem e que compramos. Emir imputa à qualidade de um bom chocolate o respeito a todas as fases: colheita no tempo certo de maturação, seleção dos frutos sadios, fermentação com controle de temperatura, secagem em pleno sol, armazenagem de forma adequada e, é claro, uma boa receita elaborada por um habilidoso chocolate maker. Clima, solo, genética, manejo e pós-colheita bem cuidados, aliados à prática experimentada de torra e conchagem, resultam num chocolate de produção cuidadosa, artesanal, sustentável.

Como um bom idealista, que colocou o nosso país no seleto grupo de cacau fino mundial e que acredita nos sabores intrínsecos na natureza do cacau, faz previsões otimistas acerca do futuro do cacau brasileiro: “temos um potencial muito grande, um universo de aromas e sabores a serem descobertos, porque cada variedade tem a sua peculiaridade, a sua diversidade genética, que quando bem trabalhados, apresentarão muita qualidade ao mundo”.


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