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Hospitalidade

Estamos chegando ao término de um ano, 2020. Visto na perspectiva dos números até parece simpático e equilibrado. Contudo, ele está longe disso. Quantos acontecimentos surpreendentes. A pandemia da Covid-19 foi o maior deles, gerando encontros e desencontros, posturas racionais e irracionais, ações agregadoras e desintegradoras de valor. Que caminhada! Marcante. Quantos lamentos, alguns nem sempre escutados, outros atendidos por pessoas abnegadas que ficarão na pele, no coração e na alma de todos os integrantes da família humana. Sim, ao olhar-se para trás é possível ver a trilha deixada, semelhante a nenhuma outra antes percorrida, pelo menos nos últimos tempos. Um legado que ficará registrado na história. A cada um caberá examinar se atuou como um mero passante, ou como protagonista, como um peso morto, ou como um agregador de valor ao bem estar do outro.

No âmago dessas reflexões algo chamou novamente a atenção como sendo uma evidência ímpar para nortear a caminhada hora em curso: a hospitalidade. É bem verdade que somos a espécie que somos e chegamos até aonde chegamos porque soubemos criar, fortalecer e ampliar os laços sociais mediante a prática da hospitalidade. Não existe vida humana sem laços sociais decorrentes do princípio da hospitalidade. A hospitalidade sempre marcou presença na convivência das pessoas e continua sendo assim, visando o fomento dos laços sociais agregadores de valor para o bem-estar próprio e das pessoas integrantes das comunidades.

Assim sendo, observou-se que o ano 2020, marcou, de uma parte, o agir de pessoas alienadas do ter o outro em consideração, e de outra, pessoas dadas ao exercício da hospitalidade mediante o respeito, cordialidade, amabilidade, generosidade, serenidade, solidariedade e tolerância, sem excluir outros atributos da hospitalidade. Atributos que contribuem para levar as pessoas a agirem com atitude hospitaleira e, em face disso, tornando-as “divinas”! Sem dúvidas, quantas pessoas assim se portaram. Elas nos fizeram lembrar do apelo bíblico ao dizer: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pois por ela alguns, sem o saber, hospedaram anjos”.

Sim, o ano de 2020, com a presença da Covid-19, proporcionou e aguçou o surgimento de novos olhares e novas conexões num amplo leque de abrangência, envolvendo todas as áreas e todas as esferas. Para exemplificar, no âmbito doméstico, local onde se concentra, com maior intensidade, o entrelaçamento dos laços sociais, quantos novos olhares e conexões foi possível colocar na vitrine! Quantas novas caminhadas empreendidas! Quantos novos caminhos foram necessários “fazê-los avançar”! Quantas pequenas coisas passaram a figurar como preciosidades, tais como: sair para passear a qualquer hora, respirar sem o uso da máscara, abraçar os amigos...

É assim que a grande maioria das pessoas chegam a um destino bem conhecido: o Natal e o Ano Novo. Contudo, nunca com o coração tão aflito e alma tão desgastada das forças que dela tiramos.

                                                                                                                                                                                                                 Geraldo Castelli    



Foto: Elias Maurer/Unsplash

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